Chorume

Por Júlia de Almeida Costa Montesanti

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

Categorias: Ecologia, Química
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Como consequência do crescimento populacional e do aumento na demanda por bens de consumo, a produção exacerbada de resíduos sólidos é um dos grandes problemas ambientais do mundo moderno. Entre as várias consequências negativas do aumento na produção de lixo — especialmente se este é depositado em locais inadequados — está a produção do chorume.

Chorume é o nome dado a um efluente líquido turvo, de coloração escura e com odor extremamente desagradável, que resulta da degradação dos compostos orgânicos dos resíduos sólidos urbanos. O líquido percolado ou lixiviado, como também é conhecido, forma-se a partir da umidade natural do lixo, da água constituinte da matéria orgânica que escoa ao longo do processo de decomposição, das fontes de água naturais presentes na área onde estão dispostos os resíduos e também das bactérias presentes no lixo, que produzem enzimas responsáveis por dissolver a matéria orgânica.

Este líquido pode ser extremamente tóxico e, por apresentar substâncias bastante solúveis, pode se infiltrar e contaminar o solo e até mesmo águas subterrâneas, o que pode trazer sérias consequências tanto para o meio ambiente como para a saúde pública. O impacto provocado pelo chorume, no entanto, depende da sua composição, que por sua vez varia de acordo com seu estágio de formação, natureza dos resíduos, local de disposição dos resíduos, fatores climáticos (pluviosidade, temperatura, área de insolação), tipos de solo etc. De forma geral, o chorume pode apresentar elevadas concentrações de sólidos em suspensão, compostos orgânicos, amônia e compostos inorgânicos (incluindo metais pesados).

Em aterros novos, por exemplo, o chorume é caracterizado por altas concentrações de Demanda Bioquímica de Oxigênio (parâmetro que mede a quantidade de oxigênio necessária para a degradação da matéria orgânica por processos bioquímicos: quanto menor for este parâmetro, menos poluente é o efluente), além de diversos compostos tóxicos e microorganismos patogênicos. Com o passar dos anos a biodegradabilidade diminui significativamente devido a conversão de parte dos compostos biodegradáveis em metano e gás carbônico.

O poder de contaminação do chorume pode chegar a ser 200 vezes maior que o do esgoto doméstico. Por isso, nos aterros sanitários o solo precisa ser protegido para evitar que o chorume se infiltre e atinja águas subterrâneas. Este líquido é então captado por drenos e submetido a um sistema de tratamento, que pode ser feito tanto no próprio aterro como em estações independentes.

Há vários métodos que podem ser empregados para o tratamento do chorume, mas os aterros brasileiros comumente utilizam processos biológicos, que podem ser aeróbios ou anaeróbios. Entretanto, a eficiência desse tipo de tratamento é limitada, uma vez que a composição destes efluentes é extremamente variável. Além disso, métodos biológicos em geral requerem grandes áreas de instalação. Outros métodos convencionais incluem a recirculação do chorume e processos físico-químicos (como diluição, filtração, coagulação, floculação, precipitação, sedimentação, adsorção, troca iônica, oxidação química), mas eles também possuem suas limitações.

Geralmente, para atingir os padrões estabelecidos pela legislação ambiental, é realizada uma combinação de diferentes métodos. Assim, dado que não há um processo que, sozinho, seja capaz de reduzir na totalidade dos casos todos os parâmetros nocivos do chorume, há uma crescente tendência — especialmente nos países desenvolvidos — de se desenvolver e testar tecnologias eficientes e de baixo custo para o tratamento deste efluente.

Leia também:

Referências:

Consumo sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC. 2005.

Elk, A. Redução de emissões na disposição final. Mecanismo de desenvolvimento limpo aplicado a resíduos sólidos. 2007.

Serafim et al. Chorume, impactos ambientais e possibilidades de tratamento. III Fórum de Estudos Contábeis. 2003

Freire de Sá, L. et al. Tratamento do lixiviado de aterro sanitário usando destilador solar. Revista Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science. 2012.

Lange, L. et al. Tratamento de lixiviado de aterro sanitário por processo oxidativo avançado empregando reagente de fenton. Eng. sanit. ambient. 2006.

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