A proposta de Redação do Enem 2005 é muito atual e oportuna. Realmente a questão do trabalho infantil na realidade brasileira é alarmante. Quando se observa, por exemplo, o mapa com a distribuição da apropriação da mão-de-obra de crianças por cada região, nós nos surpreendemos com a alta porcentagem desta ocupação no Nordeste e principalmente no Sudeste.
De um lado, o aluno se depara com uma passagem de um artigo publicado no Diário de Natal, de autoria de Xisto T. de Medeiros Neto, “A Crueldade do Trabalho Infantil”. Como o próprio título indica, o texto traduz a indignação do articulista com as condições inclementes que envolvem o trabalho infantil.
O segundo texto, extraído do site www.proec.ufg.br., sob o título “ O trabalho infantil na agricultura moderna”, escrito por Joel B. Marin, segue em outra direção. Ele adota outro ângulo sobre a mesma realidade. O autor defende que o trabalho infantil é fruto da tentativa dos familiares de manter intactos os valores morais de seus filhos, preparando-os para trabalhar de forma digna; assim estariam mais distantes da tentação da criminalidade.
E, para que o estudante realmente reflita sobre o assunto, os examinadores coroam essa exposição com a apresentação de um fragmento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, é obrigação dos familiares e do corpo social garantir, acima de tudo, a concretização dos direitos correspondentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à coexistência familiar e social.
Baseado nestes dados, o aluno é convidado a expor seu ponto de vista sobre o trabalho infantil na realidade do Brasil. E sempre se reforça que ele deve se valer de sua experiência existencial, dos seus conhecimentos e dos recursos que adquiriu ao longo de sua vivência acadêmica.
Qualquer filme, livro, música, entrevista, documentário, debate entre amigos, palestra ou até uma novela que tenha enfocado este tema pode ser, neste momento, de grande ajuda. É fundamental que as novas gerações sejam capazes de refletir sobre tópicos que deveriam constar incessantemente da agenda de discussão dos problemas nacionais mais urgentes. Só assim haverá esperança de mudanças substanciais. Os jovens que chegam a realizar exames como o Enem devem isso aos companheiros que jamais atingirão esse patamar, pois estão ocupados demais trabalhando, muitas vezes desde os cinco anos de idade.