Muitas guerras, conflitos e crimes, tanto no âmbito mundial e nacional quanto no individual, passam pelo desafio de se conviver com a diferença. Embora esta seja inerente a cada ser, pois, como bem retrata a canção do grupo Engenheiros do Hawaii, “ninguém = ninguém”, nem todos sabem como aceitar e coexistir com o elemento diferenciador que habita os seres e as culturas.
A intolerância, a discriminação em todas as suas faces, o bullying, e outras tantas manifestações da dificuldade de lidar com a diferença são os maiores males que assolam a nossa sociedade. Eles empurram muitas pessoas para a marginalidade, os vícios, os distúrbios psíquicos, os crimes passionais e até mesmo para a loucura e o suicídio. E, no plano geral, motivam confrontos bélicos graves e devastadores.
Esse é, sem dúvida, um tema muito familiar ao adolescente, que de uma forma ou de outra vivencia essa realidade em seu dia-a-dia, especialmente no ambiente escolar. Não se trata apenas do preconceito racial, que em si já é inaceitável, principalmente no século XXI.
Infelizmente, a intransigência atinge também a esfera das opiniões, das ideologias, das crenças, das culturas, das religiões, dos comportamentos, das opções sexuais, da aparência física, do status social, entre tantas outras. E, assim, gera atitudes equivocadas e, muitas vezes, perversas, tais como a homofobia, o bullying, os massacres religiosos, as guerras de natureza espiritual, a indiferença diante da miséria. É só analisar as manchetes dos jornais; quase todas as notícias trágicas têm, por trás, uma razão que se alicerça na intolerância.
Diante deste quadro, é uma iniciativa positiva e mais que urgente convidar os candidatos a uma reflexão sobre a convivência com a diferença. E os examinadores foram super felizes na escolha de elementos multimídia para estimular a meditação sobre essa temática.
A opção por recursos visuais em uma era na qual imperam as imagens, já é um bom começo. E recorrer a duas canções, embaladas por bandas que fazem a cabeça das novas gerações, torna ainda mais acessível a comunicação com esses adolescentes. A questão não está sendo debatida por intelectuais ou especialistas no assunto, e sim por músicos que falam a mesma língua da maior parte dos estudantes.
Para manter o ar acadêmico da prova e construir uma ponte entre o erudito e o popular, os avaliadores apresentam também uma pequena passagem da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, prescrita pela UNESCO. Por um lado, os Engenheiros do Hawaii e os Titãs parecem contrapor suas visões sobre a diferença, mas uma análise mais profunda revela que os dois se valem do tom irônico para concluírem que, apesar das diferenças, “todos são iguais uns aos outros”, embora, como lembra a primeira banda, “uns sejam mais iguais que os outros”.
De outro lado, o texto da UNESCO lembra a importância da diversidade cultural e como é rica a questão da diferença. Mas logo em seguida o enunciado revela o quanto divergem essa multiplicidade produtiva e a intolerância diante da coexistência com a diferença.
Certamente essa é uma ótima oportunidade de levar os candidatos do Enem a meditarem sobre uma questão de tamanha seriedade; quem sabe esses debates não sejam o início de uma mudança na nossa relação com a diferença. E as futuras gerações tenham a chance de encontrar a igualdade na alteridade.