Este ano a redação do Enem foi bem mais complexa. Os examinadores não foram nem um pouco complacentes com os candidatos. O único texto oferecido como subsídio exige uma leitura muito atenta e conhecimentos de biologia, química, geografia, meio ambiente e história econômica. O enunciado, por sua vez, também demanda um elevado grau de concentração e a capacidade de compreender cada uma das sugestões oferecidas.
O aluno tem em suas mãos a possibilidade quase mágica de resolver a questão da preservação da Floresta Amazônica. E, por consequência, de manter ativa a máquina de chuva desta região, enfocada no artigo “A Máquina de Chuva da Amazônia”, de autoria de T. Lovejoy e G. Rodrigues, publicado no jornal Folha de São Paulo do dia 25 de julho de 2007.
Nesta reportagem os autores defendem que boa parte da chuva que cai sobre a Amazônia é produzida pela própria floresta. O equilíbrio dessa precipitação pluviométrica garante não só a estabilidade climática desta área, mas também a de várias outras regiões, até mesmo de São Paulo e do norte da Argentina. Ou seja, só chove nestes territórios se o ciclo hidrológico estável da Amazônia for garantido.
Portanto, se o aluno escolher uma das três alternativas propostas no enunciado, poderá manter em atividade a máquina de chuva. Para isso ele deve analisar com muito cuidado cada opção. E verificar suas probabilidades de sucesso, bem como as restrições, no momento de sua aplicação.
A primeira sugestão é a mais tentadora, pois dá ao candidato o poder de sustar na mesma hora a ação de desmatamento da Floresta Amazônica, até que sejam radiografadas as regiões nas quais será permitida a exploração de madeira no modelo da economia sustentável.
Claro que a oposição a essa política seria imediata e ferrenha, pois ela contraria frontalmente os interesses da elite agrária do país, das multinacionais que extraem seus lucros do desmatamento, dos laboratórios que monopolizam as patentes de medicamentos fabricados a partir de substâncias típicas das matas nativas, e de tantos outros que mal podemos imaginar. É óbvio que as possibilidades de sucesso seriam igualmente muito altas, pois a preservação da Floresta incorreria diretamente na sustentação da máquina de chuva.
A segunda proposta é de certa forma mais prática. Uma linguagem que os proprietários rurais entendem é justamente a do dinheiro. Portanto, indenizá-los para que parem de desmatar a Floresta é uma ideia genial, principalmente se os meios financeiros vierem de instituições internacionais, preservando a economia nacional. Resta saber que entidades estrangeiras aceitariam financiar esse projeto.
A terceira alternativa é ampliar a rede de fiscalização e criar multas de valor considerável para os infratores, os que persistirem no desmatamento da Amazônia. Bem se sabe que essa é uma questão problemática no Brasil. A impressão que se tem é de nunca haver fiscais suficientes para vigiar a aplicação das leis no território nacional. Por outro lado, seria mais uma solução prática se fosse realmente concretizada.
Nesta redação o aluno exercita a capacidade de reflexão, a prática de conhecimentos adquiridos em várias disciplinas, o poder de articular escolhas, decisões e análises de prós e contras em cada ação sugerida. Sem falar na urgência de se debater a questão climática, principalmente a referente a esta região polêmica.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/redacao/proposta-de-redacao-do-enem-2008-comentada/