O tema de redação de 2009 bem poderia ser o da prova do Enem de 2013, pois reflete exatamente a conjuntura nacional do momento. Em junho de 2013, multidões saíram às ruas em todo o país, extravasando a indignação sufocada por tanto tempo. Muitas foram as reivindicações, as pautas, algumas até se contrapondo, como, por exemplo, nas questões do Ato Médico e da Proposta de Emenda Constitucional 37/2011, a famosa PEC 37.
Por outro lado, os manifestantes revelavam um ufanismo incomum ao exibir a bandeira brasileira com orgulho durante os protestos. Só que, ao contrário do que diz a autora Lia Luft na coluna Ponto de Vista, publicada pela Revista Veja em dezembro de 2006, este patriotismo até mesmo exagerado não impediu que as pessoas saíssem às ruas e reivindicassem seus direitos.
Em todo o mundo tornou-se comum dizer que o gigante tinha despertado. Finalmente as novas gerações se mobilizaram, apesar de serem tão desacreditadas. Supostamente se alienavam, mergulhando em seus universos virtuais, nas baladas, nos videogames que afastam seus fãs da realidade, nas redes sociais que mantêm os internautas cativos de suas teias. A visão que se tinha, até bem pouco tempo, era exatamente essa.
Tanto era assim que, em uma proposta de redação como essa, que enfoca principalmente o tema da ética nacional, os examinadores não pensaram em recorrer a um texto ou a uma imagem que representasse a importância das redes sociais como instrumentos de mobilização nacional e de rebeldia.
Certamente foi muito importante levar os estudantes a refletirem sobre essa questão. Tópicos como esse injetam nos jovens, naturalmente indispostos contra a ordem social, o desejo de transformar o mundo, ou pelo menos o seu país. É fundamental, neste momento, que os examinadores aproveitem os eventos históricos que marcaram esse ano para levar os alunos a meditarem sobre o seu papel nas mudanças necessárias ao país, as quais passam especialmente pela Reforma Política.
E também permitam aos candidatos meditarem sobre o quanto houve de manipulação ou não nas manifestações. Se os protestos foram um fenômeno espontâneo, porque cessaram repentinamente? O Gigante realmente acordou ou só espreguiçou e voltou a dormir? As pessoas continuam acomodadas, como denuncia Lia Luft? Onde se escondeu a indignação que até poucas semanas tomava conta das ruas?
Este tema, com certeza, continua mais atual que nunca. A questão da ética nacional passa por discussões mais profundas que as abordadas nas manifestações, o que, de forma alguma, tira o brilho e a importância desses eventos. Eu diria que uma temática como essa exige textos mais densos, ricos e variados. De resto, continua sendo um debate mais que oportuno.