Doenças autoimunes

Por Aline Pacheco de Oliveira Lima

Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

Categorias: Doenças, Saúde, Sistema Imunológico
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Doenças autoimunes, também chamadas de autoimunidade, são doenças causadas por falhas no sistema imune em distinguir o “próprio” do “não-próprio”, fazendo com que o sistema imune identifique células próprias e saudáveis como ameaças e inicie uma resposta de defesa contra elas. Alguns exemplos mais conhecidos de doenças autoimunes, são: diabetes mellitus tipo 1, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, tireoidite de Hashimoto, doença de Graves e artrite reumatoide.

Durante o processo de formação, o sistema imune passa por diversas etapas que visam controlar e regular para que sua formação seja adequada e funcional. Dentre as fases de regulação, após garantir que seus linfócitos sejam capazes de reconhecer MHC próprio (linfócito T, apenas), a segunda etapa de regulação é garantir que os linfócitos não reconheçam (não respondam contra) o próprio organismo. Nessa fase, as células são apresentadas à antígenos diversos e aquelas que possuem afinidade alta para antígenos próprios são rapidamente eliminadas devido ao perigo iminente que elas teriam se isso não ocorresse. Todo este processo é chamado de tolerância central.

Além disso, existe outro processo chamado tolerância periférica, onde células que se encontram nos tecidos periféricos e tem alguma potencialidade de serem auto-reativas, são identificadas e são eliminadas através da indução de sua morte (morte celular) ou são silenciadas através da ação de outras células com efeitos supressores.

Ambos processos de tolerância são extremamente regulados por diferentes vias de sinalização. Essa regulação é tão essencial para homeostase do organismo que uma vez quebrada a tolerância, o sistema imune passa a responder altamente contra antígenos do próprio organismo, desencadeando assim, autoimunidades. Os processos que levam a esta quebra de tolerância ainda são amplamente estudados e não há nenhum consenso sobre o mecanismo central nesses casos. Alguns mecanismos propostos, no entanto, são: a falha na indução da morte da célula auto-reativa – esta morte celular é induzida através de receptores de morte. É possível que algumas células tenham anormalidades nestes receptores e, portanto, sejam incapazes de receber a sinalização de morte, vinda deles; perda da anergia celular – as células auto-reativas podem ser colocadas em estado de anergia, quando reconhecidas pelo sistema. Sendo assim, elas não são retiradas, mas apenas silenciadas. É possível que o ambiente celular que ela se encontre faça com que esta célula volte a ser ativa, e portanto, auto-reativa; reação cruzada de antígenos microbianos e próprios – alguns patógenos possuem antígenos bastante semelhantes estruturalmente com antígenos próprios. Assim, após uma infecção as células que possuem semelhança, podem ser capazes de reagir contra o próprio e desencadear uma autoimunidade; defeitos nas células supressoras – algumas células são importantes supressoras da ativação do sistema imune, como os linfócitos T supressores. Havendo falha na ativação e na atuação destas células, perde-se seu efeito inibidor e assim, pode-se favorecer a ativação de células auto-reativas. Apesar de serem diversos, estes mecanismos geralmente não são únicos, mas acontecem concomitantemente dois ou mais, favorecendo completamente o quadro de desenvolvimento de autoimunidade.

Além dos mecanismos celulares em si, outras investigações sobre como as autoimunidades aparecem têm sido estudadas. Alguns fatores como genético e ambiental, apesar de não estarem completamente elucidados como, já são consenso de serem fatores que predispõem os indivíduos a desenvolverem doenças autoimunes. Os genes relacionados a algumas autoimunidades são os genes das famílias das imunoglobulinas, genes dos receptores das células T e genes relacionados ao MHC. O ambiente também tem papel importante nessa pré-disposição: alguns estudos têm observado a relação inversa entre facilidade de infecção e desenvolvimento de autoimunidades. A chamada hipótese da higiene diz que regiões onde os indivíduos têm grande facilidade de entrarem em contato com amplo espectro de antígenos (ou seja, têm mais facilidade de infecção), são regiões onde poucas doenças autoimunes são observadas e que regiões onde o indivíduo é exposto a baixa variedade de antígenos, são regiões com maiores ocorrências de autoimunidades.

As doenças autoimunes podem ser órgão-especifica ou sistêmica, dependendo do antígeno que desencadeou a resposta imune. O diagnóstico destas doenças pode variar, pois cada uma pode apresentar sintomas específicos, mas no geral, a maneira mais eficiente é através de exames sorológicos que possam detectar os auto-anticorpos. A respeito dos tratamentos, também pode ser variado, dependendo da região acometida, e tratamentos que visem diminuir a resposta imune têm sido estudados como futuras opções de terapias.

Algumas doenças autoimunes:

Referências:

<http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/MicrobiologiaeImunologia/tolerancia_e_autoimunidade.pdf > acessado 05/11/17

Robazzi, Teresa Cristina Martins Vicente; Fernando Fernandes. «Autoimmune thyroid disease in patients with rheumatic diseases». Revista Brasileira de Reumatologia. 52 (3): 423–430. ISSN 0482-5004. doi:10.1590/S0482-50042012000300011

McGonagle, D; McDermott, MF (Aug 2006). "A proposed classification of the immunological diseases". PLOS Medicine. 3 (8): e297. doi:10.1371/journal.pmed.0030297. PMC 1564298 Freely accessible. PMID 16942393

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