O sistema circulatório do corpo humano foi descrito por volta de 1630 pelo médico William Harvey. Através de suas observações, ficou claro que a transmissão de sangue no interior do corpo, irrigando todos os órgãos, era essencial para a manutenção da vida. Pouco anos depois, uma série de experiências foram realizadas na tentativa de transferir sangue entre pessoas, sem resultados positivos. Somente 30 anos depois, através da criação do microscópio, é que as células sanguíneas foram descritas, demonstrando que havia uma porção material que, juntamente com o plasma (parte líquida) formava o sangue. Ficou evidente então que a presença destas células poderia afetar a transferência de sangue entre pacientes.
A primeira transfusão de sangue bem-sucedida ocorreu na Inglaterra no ano de 1665, sendo realizada entre cachorros. Por muito tempo essa técnica permaneceu no campo experimental, sendo considerada perigosa demais para ser praticada em humanos, uma vez que muitas das tentativas causavam reações adversas aos pacientes, sendo letais em casos extremos. Somente em 1818 houve a descrição de uma transfusão de sangue entre pessoas, feita pelo obstetra James Blundell, salvando a vida de uma paciente que sofreu hemorragia pós-parto. Ficou claro desde então que esta técnica poderia ser aplicada em muitos casos para salvar vidas. No entanto, mais estudos foram necessários para que esta prática se popularizasse. Quando os grupos sanguíneos foram descritos, formulando o sistema ABO, entendeu-se que as células de um tipo de sangue específico possuem antígenos que atacam outros tipos sanguíneos reconhecidos como diferentes, o que permitiu compreender porque as transfusões poderiam dar errado.
As primeiras práticas de segurança de transfusão sanguínea envolviam a determinação da tipagem sanguínea do doador e do paciente. Caso houvesse uma mistura compatível, a transfusão era realizada, o que conferiu um maior sucesso à esta técnica. Com o desenvolvimento posterior do sistema Rh (positivo ou negativo) em 1940, as transfusões passaram a ser um procedimento padrão realizado por profissionais da saúde. Outras metodologias acompanharam esta tendência, permitindo o uso de anticoagulantes e resfriamento para preservação a longo prazo de sangue, levando a criação dos primeiros Hemocentros ou Bancos de Sangue. Ao final dos anos 1990, grandes centros mundiais e a Cruz Vermelha recomendam que, antes de ser utilizado, o sangue doado deve ser testado para sífilis, hepatite e HIV.
A prática de transfusão em si envolve a inserção de um conector intravenoso no paciente, que recebera através de uma bolsa de sangue o volume recomendado, o que pode levar algumas horas. Devido a passagem de um grande volume de sangue, é comum sentir dor no local da transfusão por alguns dias depois, sendo necessário também um acompanhamento médico para se assegurar de que não haja nenhum efeito colateral. Outros sintomas comuns associados a transfusões incluem febre ou reações alérgicas (como coceira).
Recomenda-se uma transfusão sanguínea para pacientes que realizam grandes procedimentos cirúrgicos agendados ou de emergência, para pessoas que perdem grandes volumes de sangue devido a ferimentos ou acidentes e pacientes com doenças que causem a redução da quantidade de células no sangue, como no caso da anemia e leucemia.
Referências:
American National Red Cross (2001) American Red Cross. United States, retrieved from the Library of Congress.
Goodnough, L. T., Brecher, M. E., Kanter, M. H., & AuBuchon, J. P. (1999). Transfusion medicine—blood transfusion. New England Journal of Medicine, 340(6), 438-447.