Biodiversidade cultural

Por Felipe Araújo
Categorias: Ecologia, Sociedade
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Biodiversidade cultural é a interação entre a cultura, os organismos e as características geofísicas da Terra. O termo explica a mistura e influência destes elementos como forma de manutenção do planeta, seu bom funcionamento e contínua existência. A criação do conceito de biodiversidade cultural deve-se à contínua ação do homem na natureza, o que gerou uma preocupação global. Assim, criou-se esta nova perspectiva não somente relacionada à preservação do meio ambiente, mas direcionada de forma mais complexa sobre a diversidade e inter-relação do conhecimento humano, dos recursos naturais e da variedade de seres vivos presentes em um amplo ecossistema integrado.

A formação desta ideia de biodiversidade cultural ocorreu a partir dos primeiros seres que surgiram na Terra. Foi construída gradualmente através da adaptação das formas de vida em ambientes particulares. A partir deste processo, os grupos puderam desenvolver redes de conhecimento específico a respeito das espécies e suas funções. De suas necessidades, foram capazes de gerar cultura para se adaptar a seus nichos ecológicos.

Ao contrário da utilização desenfreada dos recursos praticada por companhias, sem respeito algum em relação ao meio ambiente, os povos originários utilizavam os elementos da natureza de forma integrada, como se desrespeitar uma árvore, um rio ou um animal fosse falhar com todo o planeta, incluindo sua própria espécie. Deste pensamento surge o conceito de biodiversidade cultural em sua forma mais direta, indicando a necessidade de preservar a Terra em todos os seus aspectos.

Toda a criação, conservação e divulgação deste conhecimento tem a função de auxiliar de forma global o aprimoramento de interações com a natureza. Conhecido pelo nome de Conhecimento Ambiental Tradicional, do inglês, Traditional Ecological Knowledge (TEK), esse conjunto de técnicas foi passado de forma geracional e formou maneiras de enxergar o mundo, modos de vida, além do senso de pertencimento local. Dentro deste contexto de integração entre os seres e o meio ambiente também foram saciadas as necessidades de caráter espiritual e psicológico.

Para a maioria das pessoas, a ideia de biodiversidade cultural evoca o conceito de “teia da vida”, um interconexão entre as bilhares de espécies de animais, plantas e sua evolução dentro do ecossistema terrestre. Porém, o fato de os seres humanos estarem nesta integração normalmente é esquecido. O conceito de biodiversidade cultural apresenta, na verdade, um contraproposta a esta visão inicial, endossando que o ser humano é parte fundamental desta rede de interdependência e não pode ser visto de maneira excludente do mundo natural. Em outro aspecto, o fator de representar uma forma de vida altamente integradora da natureza não pode ser confundida com o conceito de dominância em relação às outras espécies.

A partir do princípio de biodiversidade cultural e sua preservação, diversas organizações voltaram-se para um política de preservação das sociedades locais. É nelas que se pode realizar uma estreita cooperação entre a cultura específica e o conhecimento global, gerando benefícios para todos os setores. A Amazônia é um dos locais, um dos poucos ainda existentes, que simboliza a necessidade desta integração. Neste sentido, uma forma de desenvolver o território amazônico brasileiro seria o investimento na biotecnologia que advém do conhecimento técnico dos povos originários, atrelada à força da tecnologia industrial. O segredo é a utilização das propriedades infinitas provenientes das espécies presentes naquele território dentro de um processo de industrialização que, ao utilizar elementos naturais, coloque em primeiro escalão a necessidade de preservá-los.

Neste sentido, seria possível desenvolver a localidade com respeito às suas características e ainda ampliar sua integração para com as outras partes do país, resolvendo com ações coerentes e eficazes do Estado uma questão que perdura séculos. Ou seja, o conceito de biodiversidade cultural aplicado na prática, o respeito à aldeia para convertê-la em uma benesse nacional e até mesmo global. Isso geraria crescimento interno tanto aos habitantes da Amazônia quanto ao resto do país e, por consequência, do mundo.

Fontes:

MAFFI, Luisa, Ortixia Dilts. 2014. ‘Biocultural Diversity Toolkit: An Introduction to Biocultural Diversity’ (Salt Spring Island: Terralingua).

https://www.arcticbiodiversity.is/index.php/the-report/traditional-ecological-knowledge-tek

https://www.inae.org.br/livro/amazonia-vazio-de-solucoes-desenvolvimento-moderno-baseado-na-biodiversidade/

https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8953/1/LIVRO_Cultura%20e%20Desenvolvimento%20Humano%20Sustent%c3%a1vel%20-%20Rui%20Matoso%202010_.pdf

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