Darwinismo social

Graduada em História (USP, 2011)

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Um turbilhão de conceitos e ideias nasceram durante o século XIX, um destes conceitos foi o chamado darwinismo social, ou como também era conhecido na sua época o social-darwinismo.

Em um momento em que diversos cientistas expunham múltiplas teorias a respeito do desenvolvimento dos seres vivos, o naturalista britânico Charles Darwin publicou a sua obra mais conhecida, A origem das espécies (1859), embora a tese evolucionista já circulasse em alguns meios científicos mais radicais, porém em menor escala, a tese só ganhou proeminência e repercussão – positiva e negativa – quando Charles Darwin a publicou.

De modo simplista, para o naturalista britânico, a evolução era um processo natural, mas aleatório. Diferindo, portanto, do que outros cientistas, como Jean-Baptiste de Lamarck – outro naturalista, contudo francês – propunham. Lamarck associava a ideia de evolução a progresso, algo muito similar, inclusive ao que seu conterrâneo Auguste Comte apresentaria posteriormente em sua filosofia positivista.

Herbert Spencer, um filósofo e antropólogo britânico, fez uma leitura diversa da obra de Darwin cunhando a expressão, hoje famosa: “sobrevivência do mais apto”. A leitura de Spencer foi uma tentativa de trazer para o campo das ciências sociais um estudo que havia sido originalmente concebido dentro das ciências naturais.

Na teoria de Spencer todos os indivíduos estão no mesmo patamar de igualdade, se comparássemos a um jogo seria como se todos partíssemos do mesmo ponto inicial e os vencedores são os mais aptos, aqueles que conseguiram driblar melhor os obstáculos, tiveram mais astúcia, souberam utilizar melhor sua inteligência, foram mais capazes de estabelecer e desfazer alianças em momentos oportunos, articularam uma melhor estratégia e, ao final, serão premiados com poder e riqueza.

Dessa forma, construiu-se uma ideia de sociedades que estavam patamares de evolução diferentes de outros. E não tardou para que o conceito de raça originasse um pensamento racista. Quando a etnografia e antropologia física foram colocadas juntas a serviço dessa linha de pensamento, de acordo com o historiador Eric Hobsbawm, rapidamente formou-se, então, o racismo. Esse racismo se constitui, porque considerava-se que cada raça possuía características inatas e imutáveis, de modo que havia raças mais evoluídas e raças menos evoluídas. E, no contexto do século XIX, considerando que estas teorias estavam sendo desenvolvidas na Europa, não poderia haver raça mais evoluída senão a própria raça branca.

Assim sendo, o darwinismo social está diretamente atrelado a um outro conceito, o chamado “fardo do homem branco”. Tal como sugere o nome, os brancos, a raça branca – seguindo toda a lógica daqueles indivíduos do século XIX – era a mais evoluída, por isso ela carregava um fardo, no sentido de uma responsabilidade. Ou seja, a responsabilidade de impedir que outras raças menos evoluídas, como a raça negra ou amarela desaparecessem da face da Terra. Então, a missão, ainda que que contraditória, do homem branco era levar os seus conhecimentos, a sua astúcia, a sua inteligência, a sua sagacidade, em suma, levar aquilo que eles consideravam civilização para as outras raças ditas inferiores.

Bibliografia

BOLSANELLO, Maria Augusta, “Darwinismo social, eugenia, racismo ‘científico’: sua repercussão na sociedade e na educação brasileira”. Educar: Curitiba, nº 12, p153-165, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/sNH6RP4vvMk6wtPSZztNDyt/?format=pdf&lang=pt, acesso em 03 out. 2021.

HOBSBAWM, Eric J., A era do capital. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

MORAES, Edmundo Luís. História Contemporânea: da Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Editora Contexto, 2019.

Arquivado em: Antropologia, Sociedade
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