O desperdício de alimentos ocorre quando a produção excedente não encontra absorção do mercado. Portanto, os produtos acabam estragando devido a problemas no armazenamento, dificuldades de transporte, assim como nas sobras de supermercados.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no ano de 2016 foram produzidas 4 bilhões de toneladas métricas de alimento para os seres humanos. Deste montante, cerca de um terço foi perdido, resultando em mais de um bilhão desperdiçado. Ainda segundo a FAO, a quantidade de pessoas que passam fome aumentou em escala global. Em 2015, 777 milhões de pessoas estavam em estado de subnutrição, índice ampliado em 2016 para 815 milhões (11% do total da população do mundo).
A publicação destes dados trouxe à superfície o fato de que esse alimento jogado fora poderia ter sido utilizado para suprir as necessidades das pessoas que passam fome. Outra informação alarmante aumenta este problema. Se um quarto da comida desperdiçada no mundo fosse direcionada para os grupos vulneráveis, seria possível matar a fome de 870 milhões de subnutridos, ou seja, mais do que o total de cidadãos que não têm acesso à comida.
Na economia mundial ocorre o desperdício de alimentos por causa da busca por tecnologias que aumentam a sua produção. Desta forma, existe a capacidade de fazer alimentos em grande escala. O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, indica que todo ser humano tem direito à alimentação. Assim, seria lógico que este excesso fosse direcionado para as pessoas que passam fome. Mas o processo não ocorre desta forma.
A comida, assim como a água, não é mais vista como um bem comum para alguns setores. Tornou-se ao longo dos anos uma mercadoria controlada pelo monopólio de poucas empresas. Muitas vezes, alimentos que ainda não foram plantados são motivo de especulação na Bolsa de Valores, o que pode gerar a queima ou não dos excedentes. Isso depende do humor do mercado financeiro, o que colabora com o desperdício.
A chamada Revolução Verde ocorrida nos anos 1960 foi a aplicação da tecnologia para aumentar a produção agrícola e, portanto, de alimentos. Porém, esta inovação não foi capaz de equilibrar o desperdício com o número de cidadãos subnutridos.
O trabalhador substituído pela tecnologia partiu para tentar a vida nos grandes centros urbanos. Como o parque industrial tem por característica não absorver a todos, isso gerou mais subemprego e desemprego. Desta forma, aumentaram as pessoas sem renda, que não podem adquirir o alimento gerado pela produção tecnológica rural, causando excedentes e, por consequência, mais desperdício.
Para controlar este processo e buscar justificativas sobre a relação entre a produção do excedente de alimentos e a fome mundial, organizações internacionais chegaram ao conceito de insegurança alimentar. As instituições mais reconhecidas dentro deste contexto são o Banco Mundial e a própria FAO, imbuídas em desenvolver programas para mitigar a fome.
Após estudos entre a comunidade internacional, estas organizações chegaram à conclusão de que a insegurança alimentar seria fruto da ineficiência dos setores econômico, político, administrativo e técnico. Desta forma, as falhas na distribuição poderiam ser corrigidas por meio de novas estratégias, independentes do modo de produção e das relações sociais em países com características únicas. A apresentação desta resolução a respeito do desperdício, apesar de ser considerada um avanço por gerar discussão e apontar o problema, acaba por não explicar a fome como um resultado da própria economia.
Desperdício de alimento no Brasil
O desperdício de alimentos no Brasil ocorre da mesma maneira do que o verificado em outros países. Porém, o cenário nacional indica algumas diferenças em relação ao resto do mundo, principalmente no que concerne aos países industrializados, ou seja, desenvolvidos. Apesar de possuir proporções continentais e terras cultiváveis em toda a sua área, o Brasil conta com uma política concentrada na atividade de exportação. Assim, priorizando os interesses do mercado externo, a produção para a sua população fica em segundo plano. Neste contexto observa-se o desperdício de grande parte da produção, que não é direcionada para suprir as necessidades dos cidadãos.
Fontes:
ZARO, Marcelo (Org.). Desperdício de alimentos - velhos hábitos novos desafios. 2ed.Caxias do Sul RS: Educs Editora da Universidade de Caxias do Sul, 2018.
https://www.sescpr.com.br/2020/07/desperdicio-de-alimentos-uma-reflexao/
https://www.eluniversal.com.mx/mundo/cuan-grave-es-el-desperdicio-de-alimentos-en-el-mundo
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociedade/desperdicio-de-alimentos/