O termo “filantropia”, etimologicamente, se define como “amor à humanidade” e pode ser considerado como o oposto de misantropia. Historicamente, encontra-se ligado aos atos de caridade religiosa. Hoje em dia, tem seu sentido ampliado, podendo ser compreendido como ato de benevolência empreendido por pessoas ou instituições na direção daqueles que não têm situação material ou contexto de vida favorável.
A filantropia pode envolver diversas áreas de interesse público, como por exemplo, meio-ambiente, educação, cultura e saúde. Existem objetivos diversos, como a promoção do desenvolvimento econômico local, o combate à degradação ambiental, a defesa de direitos civis, o acesso à educação, entre outros. A intenção da filantropia é atender objetivos da sociedade que ainda não tenham sido realizados ou que apresentem lacunas sob a responsabilidade do Estado.
No Brasil, grande parte da filantropia é organizada por entidades filantrópicas, por exemplo, organizações não governamentais (ONGs), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e outras organizações religiosas e, mais recentemente, organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs). Estas associações sem fins lucrativos se articulam através do voluntariado e visam algum objetivo em comum, que não o lucro.
As entidades filantrópicas compõem o que chamamos de terceiro setor, assim definidas por não pertencerem diretamente ao primeiro setor (público ou Estado) e tampouco ao segundo setor (privado ou mercado). O terceiro setor vem crescendo mundialmente de forma expressiva, sendo que alguns autores chegam a falar em uma revolução associativa global.
Embora localizado à margem do aparelho estatal formal, a ampliação do terceiro setor implica em transformações nas relações entre cidadãos e o Estado, apresentando dinâmicas próprias e impactos que extrapolam os objetivos iniciais das entidades filantrópicas.
Debate sobre a filantropia
Alguns críticos das entidades filantrópicas apontam que estas seriam uma forma de “privatização” das políticas públicas e de diminuir a responsabilidade estatal. Esta perspectiva aponta que a filantropia seria uma forma de “despolitizar” e pulverizar os conflitos sociais. Neste sentido, questiona-se que, muitas vezes, é ausente no discurso de entidades filantrópicas a ideia de que para reduzir a pobreza brasileira, poderia ser necessário também reduzir a concentração de riquezas.
Além disso, critica-se a transformação da filantropia em marketing para instituições e empresas. A mercantilização da filantropia pode ser considerada a estrutura organizativa que faz uso da filantropia como forma de dar fluxo aos negócios e também gerar lucro, mesmo que não de forma direta. Nestes casos, a prática filantrópica está associada à chamada filantropia empresarial, ou em outras palavras, às ações de responsabilidade social corporativa.
É importante, no entanto, ressaltar o mérito das entidades filantrópicas em alguns aspectos, como por exemplo, no alcance de comunidades distantes e países em desenvolvimento, na promoção da participação popular e no êxito em operar e inovar com baixos custos.
O crescimento de ações filantrópicas e, consequentemente, de entidades filantrópicas e do terceiro setor são atribuídas, em muitos casos, as crises – sejam elas do Estado, de desenvolvimento econômico, social ou ambiental. Nestes períodos, nos quais as pessoas estão em maior vulnerabilidade, os cidadãos tendem a se tornar mais insatisfeitos com os governos e políticas sociais, e assim mais ávidos por criarem suas próprias associações e formas de solucionar seus problemas.
Referências bibliográficas:
SALOMON, Lester. “A emergência do terceiro setor: uma revolução associativa global.” Revista de Administração. São Paulo, v. 33, no 1, 1998.
SKLAIR, J. 2007. Relações de segregação: novas práticas filantrópicas entre a elite paulistana. São Paulo, SP. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociedade/filantropia/