Identitarismo

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O termo identitarismo, popularizado no Brasil a partir das eleições presidenciais de 2018, tem origem na expressão identity politics (políticas identitárias). Este conceito foi cunhado pelo Combahee River Collective, grupo feminista formado por negras e lésbicas em 1974. Estas mulheres uniram-se por não se sentirem representadas pelo movimento feminista, branco em sua quase totalidade.

O significado original do identitarismo pode ser encontrado no Manifesto do Coletivo Combahee River. Para as representantes da coligação, a forma mais profunda e radical de política viria da identidade própria. Afirmavam ainda que, em comparação aos grupos politizados que as precediam, todos pareciam mais merecedores de atenção do que o delas. Assim, já seria suficiente o reconhecimento horizontal da mulher negra e lésbica como ser humano.

Porém, no próprio Manifesto do Coletivo Combahee River, as autoras definem que não haveria como fazer a separação entre opressão sexual, raça e classe. Exigiam, porém, solidariedade em relação à questão racial e sexual. Ao mesmo tempo em que lutavam contra o racismo, em conjunto com os negros progressistas, confrontavam os mesmos homens negros em relação ao sexismo. “Percebemos que a libertação de todos os povos oprimidos exige a destruição dos sistemas político-econômicos capitalistas e imperialistas, bem como do patriarcado, indica o manifesto.

Polêmicas sobre a utilização do termo

A multiplicidade de interpretações a respeito do identitarismo gera discussões acaloradas. Durante as prévias das eleições eleitorais norte-americanas de 2016, o conceito foi utilizado de maneiras diferentes. Isso ocorreu entre os políticos concorrentes no Partido Democrata pela indicação à candidato presidencial: Bernie Sanders e Hillary Clinton.

Em uma de suas apresentações, Bernie Sanders foi surpreendido pela pergunta de uma mulher. Ela identificava-se como latina e queria saber quando poderia ser a segunda senadora de sua etnia nos Estados Unidos. A resposta de Sanders acabou gerando um divisão dentro do partido democrata. Para ele, a questão identitária do latino – uma minoria histórica dos EUA – precisava ser vista com extremo cuidado devido à sua importância. Da mesma forma, as causas dos afro-americanos e dos nativos mereciam igual atenção.

Entretanto, Sander afirmou que não bastaria ser latina para ser eleita. Seria preciso, além disso, ser latina e convergir com os interesses da classe trabalhadora, além de lutar contra Wall Street (símbolo da finança internacional), as empresas farmacêuticas, as companhias de seguros e a indústria do petróleo.

Obviamente, para Sanders a diversidade era de suma importância, o que converge com a ideia inicial do identitarismo pregada pelo Combahee River Collective: respeitar as particularidades, mas unir-se contra um inimigo em comum. Em outro exemplo, o político citou a importância de existirem negros em cargos de liderança nas maiores companhias. Entretanto, se estes mesmos profissionais tivessem por objetivo enviar empregos para fora do país no intuito de explorar trabalhadores e diminuir direitos, não importaria se fossem brancos, negros ou latinos, pois estariam aplicando a mesma política de precarização da força de trabalho.

Por outro lado, sua adversária Hillary Clinton propunha uma leitura diferente em relação ao identitarismo. Em um de seus discursos, citou uma fala de Donald Trump, adversário republicano daquelas eleições, em relação à comunidade negra. Trump havia se referido aos negros norte-americanos utilizando termos como preconceito, criminalidade e miséria.

Para Hillary, essas características não representavam os negros. Ela afirmava que Trump não era capaz de perceber o sucesso de lideranças negras em todos os segmentos. Citou os negócios prósperos dentro de suas comunidades, suas histórias de vida e superação, além do progresso educacional.

Neste contexto, é possível observar as diversas leituras relacionadas ao identitarismo. Se por um lado Sanders acredita que as minorias precisam ser respeitadas em suas peculiaridades, mas unidas em torno de um progresso conjunto, Hillary vê as mesmas questões de outra forma, indicando que os negros já estariam incluídos dentro do progresso do país. Assim, a opinião dela entra em divergência com o identitarismo em sua concepção original.

Com o passar do tempo, o conceito de identitarismo passou a ser cooptado pelo sistema hegemônico. Isso já fora apontado no Manifesto do Coletivo Combahee River. No texto, fica explícito que algumas mulheres negras eram admitidas em empregos e instituições de ensino como forma superficial de inclusão. Ao serem recrutadas, ajudavam estas organizações a aparentarem uma política igualitária e escaparem de denúncias de preconceito.

Fontes:

COMBAHEE RIVER, Declaração do Coletivo, 1977. Disponível em: <http://circuitous.org/scraps/combahee.html> Acesso em: 20 jul. 2020.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

https://nymag.com/intelligencer/2019/10/bernie-sanders-isnt-proof-that-identity-politics-is-over.html

https://www.publico.es/espana/marchar-separados-golpear.html

https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/?temas=1676-a-revolta-de-bacon-na-virginia-e-algumas-tentacoes-comparativas

Arquivado em: Sociedade
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