Terraplanismo é um termo anti-científico e negacionista utilizado para explicar que a Terra é plana. É uma teoria conspiratória baseada em algumas passagens da Bíblia, em dados sem comprovação da ciência e na imaginação de seus adeptos.
Aristóteles, em 350 a.C, já sabia que a Terra era um globo. O filósofo grego indicava que as constelações apresentavam visões diferentes dependendo da latitude. Na astronomia, o exemplo mais conhecido é o Big Dipper, agrupamento com sete estrelas que não pode ser visto abaixo de 25 graus Sul, mas pode ser observado em latitudes de 41 graus Norte. Com isso, comprova-se que a Terra é um globo, pois olhar "para o alto" significa realmente olhar na direção de uma camada de espaço diferente quando se está no hemisfério Norte ou Sul.
Quando observamos um barco singrando na direção do horizonte, percebemos que ele desaparece gradualmente, do casco à ponta da vela, ou seja, de baixo para cima. Este fenômeno se dá porque a Terra é redonda. O navegador Fernão de Magalhães tinha apontado esse fenômeno no século XVI a partir da sua viagem de circunavegação.
Apesar das comprovações científicas e até mesmo da observação natural de qualquer leigo, o terraplanismo persiste. Este conceito contra-científico percorreu toda a Idade Média e aterrou o vasto conhecimento produzido na Grécia Antiga.
No vídeo abaixo, o cientista Carl Sagan explica como o filósofo Eratóstenes calculou, mais de 100 anos a.C., o diâmetro da Terra (também provando que o planeta é uma esfera):
Terraplanismo moderno
Apesar de considerado como algo superado, o terraplanismo ganhou novos tons em 2014. Naquele ano, seus adeptos ganharam popularidade nos Estados Unidos.
Isso ocorreu após a publicação de um arquivo em PDF de 35 páginas apresentando 200 provas de que a Terra era plana. Seu autor, Eric Dubay, é professor universitário e fundador da Sociedade Internacional de Pesquisa sobre a Terra Plana. Posteriormente, o livro tornou-se um vídeo que tem milhares de visualizações em mídias sociais.
De acordo com esta organização, as agências espaciais promovem uma grande conspiração falsificando explorações e viagens ao espaço. Para eles, a NASA seria uma empresa de efeitos especiais focada em enganar a população forjando as conquistas espaciais.
Entre outras teorias, os seguidores do terraplanismo costumam repetir exaustivamente a da "planicidade". Segundo eles, o fato de podermos caminhar por centenas de quilômetros pelo Salar de Uyuni (maior deserto do mundo, localizado na Bolívia), comprova que a Terra é plana.
Influenciados também pela religião, acreditam que outra prova foi o dilúvio ocorrido na história bíblica da Arca de Noé. Segundo essa tese, a água escoaria para fora da bola giratória caso houvesse uma inundação daquele porte.
Memes e influências negacionistas
Um fato interessante é que, ao mesmo tempo em que o terraplanismo propagou-se a partir dos anos 2010, uma onda de políticos negacionistas chegaram ao poder. Figuras como Donald Trump, Boris Johnson e Jair Bolsonaro, anteriormente inexpressivas, assumiram as posições mais altas em seus países.
Sintomaticamente, eles conseguiram ser eleitos com discursos negacionistas em relação ao aquecimento global. Fora isso, pregavam o anticientificismo e colocavam-se como os inimigos dos intelectuais.
Este fenômeno ocorreu em paralelo à propulsão de teorias conspiratórias como o terraplanismo. Se era possível fazer milhões de pessoas acreditarem que a Terra era plana, as fake news (notícias falsas) comprovaram que por meio de mentiras contadas muitas vezes, haveria um flanco para promover qualquer pessoa aos cargos mais importantes do mundo.
Os memes, também popularizados durante os anos 2010, apresentavam imagens e frases sempre tratando de temas polêmicos. No caso do terraplanismo, foram espalhadas figuras com dizeres como "se a Terra fosse plana, a NASA lhe avisaria?" ou "você sabia que todas as imagens da Nasa são manipuladas?". Aliados a personagens cômicos e engraçados, estes memes foram de extrema eficácia na manipulação da opinião pública tanto para esta anti-ciência como para temas políticos importantes.
Fontes:
SIMAAN, Arkan; FONTAINE, Joëlle. A imagem do mundo: dos babilônios a Newton. Tradução de Dorothée de Bruchard. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
https://historia.nationalgeographic.com.es/a/terraplanismo-edad-media_14991
https://diplomatique.org.br/terraplanismo-crise-da-ciencia-e-pos-modernismo/
https://verne.elpais.com/verne/2018/01/30/articulo/1517320204_628910.html