Trabalhadores invisíveis

Por Felipe Araújo
Categorias: Sociedade, Trabalho
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Trabalhadores invisíveis são profissionais com funções sociais fundamentais, porém desvalorizadas. Fazem parte deste grupo tanto trabalhadores informais quanto registrados. A invisibilidade de tais indivíduos ocorre devido ao seu poder aquisitivo diminuto, aos direitos relativizados e devido ao preconceito por parte de uma parcela da classe alta.

Em relação à maior parte da classe trabalhadora, os profissionais invisíveis geralmente não são notados devido ao fluxo acelerado verificado nos grandes centros urbanos. Assim, o cidadão, sempre em estado de alerta referente a suas atividades diárias e horários apertados, dificilmente nota a pessoa que presta serviços essenciais à urbe.

Garis, entregadores, camelôs, ascensoristas, cobradores, jardineiros, faxineiros, coletores, gandulas, entre outros, são considerados trabalhadores invisíveis. Além de sua invisibilidade como prestadores de serviços, não são notados em relação às condições econômicas e materiais. Normalmente, no jogo das relações de poder referentes ao sistema econômico, ocorre também a sua diminuição como profissional e agente social.

Um dos principais problemas referente aos trabalhadores invisíveis não ocorre somente por sua falta de notabilidade em um ambiente. A maior dificuldade da invisibilidade é o não atendimento de suas reivindicações como profissional perante às empresas. O ideal é que as companhias apresentem políticas de valorização destes trabalhadores por meio do reconhecimento financeiro, pessoal e acompanhamento de suas necessidades como prestadores de serviço remunerado.

De acordo com alguns psicólogos, a abertura do diálogo por parte dos empregadores no sentido de entender as reais necessidades dos trabalhadores é uma forma de barrar a invisibilidade. Assim, satisfeito na esfera pessoal e econômica, o profissional será conseguintemente notado nos planos público e privado.

Cartazes humanos

Os trabalhadores invisíveis mais emblemáticos são os chamados cartazes humanos. São cidadãos que se alugam como espaço para propagandear serviços. Geralmente, são vistos nas regiões centrais das cidades usando coletes com inscrições como “compro ouro”, “compro celular”, “compro Dólar”, entre outras chamadas para serviços. Normalmente, o interessado volta-se ao “cartaz humano” e então é levado até a empresa onde pode efetuar uma negociação de compra ou venda.

Entregadores de panfleto

Assim como o profissional rotulado como cartaz humano, os entregadores de panfleto representam os trabalhadores invisíveis devido a sua não absorção pelo mercado de trabalho formal. Assim, aceitam ficar durante várias horas por dia, sem qualquer assistência, entregando panfletos ou propagandas impressas dos serviços oferecidos por seus contratantes. A remuneração é baixa, e os entregadores de panfleto mais comuns são vistos em faróis oferecendo os materiais pelas janelas dos carros ou parados na rua distribuindo cartões. Normalmente, recebem auxílio precarizado na forma de lanches e remuneração do dia inferior a de R$ 34,83, que é a referente ao valor diário do salário mínimo.

Estudo de campo

Fernando Braga, psicólogo formado pela Universidade de São Paulo, fez um estudo de campo sobre os trabalhadores invisíveis, que se transformou em sua dissertação de mestrado e depois foi publicado como livro. O profissional passou oito anos como gari no sentido de entender como se dava a invisibilidade desta classe profissional, além de poder experimentar as reações de outras pessoas perante à profissão.

Entre os relatos encontrados no livro “Homens Invisíveis – relatos de uma humilhação”, Braga descreve situações interessantes. Os garis, ao descobrirem que ele não pertencia àquela classe social, tiveram atitudes marcantes durante o convívio. Alguns passaram a protegê-lo por meio de atos como deixar que sempre usasse a vassoura mais nova, não permitir que realizasse tarefas com a pá ou a enxada, além de não possibilitarem que ele viajasse na caçamba da caminhonete, reservando a cabine. O psicólogo conta ainda que um de seus ritos de passagem para ser aceito entre os garis foi beber café em uma latinha de refrigerante achada no lixo e cortada ao meio. Depois deste episódio, o convívio passou a ser pleno e despido de preconceitos.

Fontes:

COSTA, Fernando Braga. Garis: um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública. 2002. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

http://www.responsabilidadesocial.com/entrevista/fernando-braga-da-costa/

https://pdfslide.net/documents/trabalhadores-invisiveis.html

https://www.business-humanrights.org/ru/node/210411

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