Alienação, segundo seu significado jurídico, é o mesmo que cessão, doação, venda de alguma coisa que se possua privativamente. O conceito de alienação é constantemente reinterpretado, o que permite questionar sua validade. A principal diferença entre o conceito e o significado da palavra está em que o segundo trata da alienação enquanto apropriação, exploração do trabalho, e o primeiro, a partir deste uso, trata da mesma relação no plano da consciência (RICOUEUR, 2017).
Tanto a filosofia, política, como a psicologia, a economia e outros distintos campos de conhecimento se apropriaram do conceito de alienação, concedendo-lhe diferentes significados. Para a filosofia o conceito tem raiz alemã que quer dizer “estrangeiro” (Fremd) ou “exterior” (Veräusserung). O conceito Verfremdung, que significa distanciamento alienante, dá dimensão de outro significado: algo que é mais que um sentimento ou um humor, é uma pressuposição ontológica, um distanciamento (GADAMER, 1960), uma oposição a si mesmo (LLALLEMENT, 2008).
Porém, para a sociologia o conceito de alienação foi forjado por Karl Marx a partir de suas leituras de Hegel (DURAND, 2017). Segundo o verbete “alienação” do Dicionário do Pensamento Marxista:
ação pela qual (ou estado no qual) um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, enfim, alienados [1] aos resultados ou produtos de sua própria atividade (e à atividade ela mesma), e/ou [2] à natureza na qual vivem, e/ou [3] a outros seres humanos, e – além de, e através de, [1], [2] e [3] – também [4] a si mesmos (às suas possibilidades humanas constituídas historicamente). Assim concebida, a alienação é sempre alienação de si próprio ou autoalienação, isto é, alienação do homem (ou de seu ser próprio) em relação a si mesmo (às suas possibilidades humanas), através dele próprio (pela sua própria atividade). (BOTTOMORE et al., 1988)
É por isso que o conceito de alienação é considerado central para a teoria marxista, o processo de exploração capitalista descoberto por Marx tem como base a alienação, seja social, autoalienação ou alienação do trabalho. A alienação social é resultado da separação entre trabalho e capital, quando o homem que trabalha torna-se estranho ao produto de seu trabalho. Seu caráter não é apenas descritivo, mas também prescritivo, pois contém em si mesmo um apelo em favor de uma modificação revolucionária do mundo (desalienação) (Idem.).
A obra em que Marx mais utiliza a palavra alienação é Os Grundisse e é também nela que apresenta o significado do conceito:
O que o trabalhador troca com o capital é seu próprio trabalho (na troca, a disponibilidade sobre ele); ele o aliena. O que ele recebe como preço é o valor dessa alienação. O trabalhador troca a atividade ponente de valor por um valor predeterminado, independentemente do resultado de sua atividade (MARX, 2011, PG. 400).
Outra obra que contém um estudo detalhado sobre o conceito e a necessidade de desalienação é Os manuscritos econômico-filosóficos. Os Manuscritos inauguram uma análise do modelo de produção capitalista e a relação entre o homem e seu trabalho. Há tanto indicativos de emancipação, enquanto resultado da desalienação entre homem e trabalho, e de condicionantes, enquanto obrigação cotidiana (RANIERI, 2004).
Pro fim, Marx acredita que o trabalho constitui a própria essência da atividade humana. É através do trabalho que e transforma a natureza e o próprio homem. É o mediador essencial da sociedade, a alienação do trabalho pelo modelo de produção capitalista consiste, portanto, em uma ameaça a liberdade dos homens e à sua realização plena.
Referência Bibliográfica:
BOTTOMORE, T (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro, Zahar Ed.: 1988.
Gadamer, H. G. Wahrheit und Methode. Grundzüge eiher PMlosophischen Hermeneutik: 1960.
DURAND, « ALIÉNATION, sociologie », Encyclopædia Universalis [en ligne], consulté le . URL : http://www.universalis.fr/encyclopedie/alienation-sociologie/
LALLEMENT, M. Histórias das ideias sociológicas: das origens a Max Weber. V. I. Petropólis, RJ, Vozes: 2008.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo, Boitempo, 2004.
______. Grundrisse. São Paulo, Boitempo: 2011.
RANIERI, J. Introdução. In: MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo, Boitempo, 2004.
RICŒUR, « ALIÉNATION », Encyclopædia Universalis [en ligne], consulté le 22 mai 2017. URL : http://www.universalis.fr/encyclopedie/alienation/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/alienacao-social/