Choque cultural é um conceito que caracteriza o fenômeno de estranho que ocorre entre duas culturas, sendo estas representadas por indivíduos ou por grupos sociais. O choque cultural não necessariamente é maléfico, mas pode gerar desconforto pela situação atípica. Decorrente do choque cultural, podem acontecer atos de intolerância e discriminação ou de assimilação e convivência.
O choque cultural ocorre toda vez que grupos sociais culturalmente distintos ou distantes entram em contato. É comum que ocorram momentos de estranhamento quanto às características do outro grupo, seja em seu modo de falar, agir ou interpretar a realidade. Dessa forma, podem ocorrer reações de afastamento ou de aproximação. O choque cultural ocorre dentro de toda a humanidade em diversos momentos, mas é bastante evidente na época da globalização devido a velocidade e alta periodicidade dos contatos proporcionados tanto pelos transportes globais quanto pela própria internet.
“O que essas concepções tem em comum é a palavra choque interpretada como algo, se não maléfico, pelo menos ameaçador. Na verdade, o choque cultural apresenta-se com intensidades diferentes, movimenta-se em direções distintas e implica reações muito diversificadas para as pessoas envolvidas. Um choque cultural pode, por exemplo, gerar profundo mal-estar, paralisando, desorientando as pessoas. [...] Pode, também, gerar reações de agressividade ou conflito velado e, em contraste, pode até, em alguns casos, implicar sensações de reconhecido alivio de tensão. (FRAGA, 1999, pp. 24-25).
Para Fraga, com o aumento do contato gerado pela globalização econômica e pela mundialização da cultura, é importante o estudo dos choques culturais para que se humanize as relações e transações entre pessoas e grupos. A mundialização da cultura é um fenômeno multicultural e vai além dos processos econômicos e de inserção e exclusão destes. A mundialização da cultura busca um respeito ao particular, ao mesmo tempo em que busca o em comum de todos. Essa ideia se aproxima da ideia de aldeia global, e os estudos do choque cultural podem melhorar os contatos entre empresas, instituições e indivíduos.
“Percebe-se que, enquanto uma aldeia constitui um mundo cultural singular, cujos valores, crenças e práticas subculturais aproximam as pessoas, a globalização, com suas tecnologias, dá indícios de acirrar disputas, de agilizar manifestações etnocêntricas, de contribuir para a exclusão de grupos humanos e de favorecer tentativas veladas ou explicitas de dominação. (FRAGA, 1999, p. 33).
O choque cultural se caracteriza por ter quatro fases de acordo com Oberg e Bellini. As fases se referem a como as pessoas interagem com as diferenças culturais de sua cultura natal e com a cultura estrangeira, por assim dizer. As fases são: Lua de mel; rejeição; regressão e isolamento; ajuste e adaptação. Cada uma delas tem uma característica especifica e pode não se passar por todas as fases.
Bellini estipula algumas características para cada fase. O momento de lua de mel é entendimento como os primeiros contatos e são geralmente felizes, por se remeterem ao novo e a novas experiências. Pode durar alguns dias ou semanas. O período de rejeição se refere as críticas, ressentimentos e raiva que derivam das dificuldades que virão das diferenças e das expectativas criadas no período anterior. A sensação de alteridade é presente e pode levar a essa rejeição. A partir daí, se dá o processo de regressão com possível isolamento. Nesta fase, a pessoa se torna crítica do ambiente que a rodeia e saudosista de sua própria cultura, idealizando a mesma e esquecendo suas falhas. O isolamento pode vir nesta fase se a pessoa optar por não interagir com a cultura local nova, outros sentimentos são a ansiedade e saudade. E podem impactar o comportamento e relações da pessoa com outros grupos. Esse período pode durar de 6 a 8 semanas. A última etapa é a adaptação que vem com a solução das crises da etapa anterior e realiza uma aceitação da situação que vive.
Assim, a relação entre culturas é o que tematiza a ideia de choque cultural. Ao mesmo tempo que as fases são vistas do ponto de vista individual, é necessário pensar que pode afetar representantes de corporações e países da mesma forma, o que pode prejudicar relações interculturais. A prática da alteridade, como colocada pela antropologia, pode ser de grande ajuda neste momento. A alteridade é que se refere ao outro e a construção de um respeito e entendimento mútuo. Supera a ideia de empatia por não ser possível se colocar no lugar do outro, devido às diferenças culturais inerentes a cada grupo social. A alteridade coloca o foco na relação com o outro e não apenas no próprio ego e ponto de vista, podendo ser um ponto chave para a construção de relações mais harmônicas.
REFERENCIAS:
FRAGA, Valderez F. Choque cultural como aprendizado profissional e humano. Revista de Administração Pública RAP. FGV. v. 33, n. 5 (1999). Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/7623/pdf_40
BELLINI, Mary Ann S. The Four Stages of Culture Shock. Square Mouth. 14 abr 2014. Disponível em: https://www.squaremouth.com/travel-advice/the-four-stages-of-culture-shock/