Etnocentrismo

Por Camila Betoni

Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014)
Graduação em Ciências Sociais (UFSC, 2011)

Categorias: Sociologia
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Podemos definir o etnocentrismo como uma visão de mundo onde culturas diferentes da nossa são vistas, sentidas, representadas e julgadas a partir dos critérios e valores da nossa própria cultura. O olhar etnocêntrico é aquele que se lança diante da diferença e tenta compreendê-la tendo como referência central o universo que constitui a cultura do próprio observador. De forma sintética, podemos dizer que ser etnocêntrico é julgar a cultura do “outro” nos termos da cultura do “eu”. Assim, o etnocêntrico é aquele que usa as ideias de sua cultura sobre o que é certo ou errado, o que é justo ou injusto ou o que é evoluído e o que é primitivo, para julgar e compreender costumes, práticas e hábitos de comunidades e etnias que não compartilham deste mesmo universo de valores.

Podemos compreender melhor o olhar etnocêntrico a partir de alguns exemplos. Imaginemos um navegador europeu que desembarca pela primeira vez nas Américas e aqui encontra povos indígenas, comunidades humanas que até então ele não fazia ideia da existência. Ao se deparar com a nudez dos indígenas, nosso navegador imediatamente conclui que estes são povos depravados, que não se preocupam em esconder seu corpo. Este é um exemplo de olhar etnocêntrico, uma vez que o navegador está usando a moral de sua própria cultura para interpretar um hábito de uma cultura alheia. Observe que não há aqui uma preocupação em compreender qual a relação e o entendimento que a cultura desses indígenas têm com seus corpos e a sua nudez.

Quando uma comunidade majoritariamente cristã, ao tomar conhecimento de práticas religiosas de matriz africana em seu território, a ataca por considerar suas práticas sagradas como erradas, pagãs ou mesmo satânicas, também temos um exemplo de olhar etnocêntrico. Novamente, as práticas de um grupo diferente estão sendo julgadas a partir de critérios que lhes são exteriores. Quando julgamos os hábitos alimentares dos chineses sem conhecer sua história ou o significados dados por esse povo às suas práticas, também estamos sendo etnocêntricos.

Segundo o antropólogo Everardo Rocha, o olhar etnocêntrico não é exclusivo de uma época ou sociedade. Ao contrário, tentar compreender costumes diferentes usando critérios de nossa própria cultura é uma reação quase que espontânea e comum a todas as culturas. Somos levados a enquadrar o que é diferente como exótico, nojento, estranho, errado ou primitivo. No entanto, como você deve ter concluído a partir dos exemplos anteriores, o etnocentrismo pode levar a práticas de violência, como o colonialismo e a intolerância religiosa. Ao não reconhecer a autonomia do “outro”, o olhar etnocêntrico pode exigir sua aniquilação, seja em termos culturais - isso é, com a imposição do abandono de suas práticas - ou mesmo físicos. Temos muitos exemplos na história em que o etnocentrismo levou ao genocídio de populações inteiras.

Para não reproduzirmos o etnocentrismo é preciso questionar nosso olhar diante do “outro”. A Antropologia Cultural, ainda que tenha origens também etnocêntricas, se desenvolveu como uma disciplina que traz um novo olhar em relação a diversidade humana. Ao contrário do etnocentrismo, o relativismo cultural seria um esforço de compreender o outro a partir de seus próprios termos e valores. Isso é, reconhecer a sua autonomia e entender que é preciso tomar em conta a posição que ocupamos enquanto observadores. Afinal, o que pode ser normal para nós, também pode ser bizarro para outras culturas, não é?

Referências:

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo? São Paulo: Ed. Brasilense, 1984

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