Fatos sociais

Por Camila Betoni

Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014)
Graduação em Ciências Sociais (UFSC, 2011)

Categorias: Sociologia
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O que é um fato social? Essa é a pergunta que dá nome ao primeiro capítulo de As regras do método sociológico, publicado em 1895 por Émile Durkheim. A maior preocupação de Durkheim era definir um método que fosse próprio da Sociologia, que a diferenciasse de todas as outras áreas do conhecimento. Para isso, foi preciso especificar seu objeto de estudo, que é justo o fato social. Fatos sociais são formas de agir, de pensar e de sentir que se generalizam, isso é, se repetem em todos os membros de uma sociedade ou de uma comunidade específica. Nem todo hábito que se repete, entretanto, pode ser considerado um fato social. Dormir e comer, por exemplo, são ações que todos nós praticamos, mas fazem parte do universo biológico – são portanto, assunto para as Ciências Naturais. Ademais da generalidade, duas características centrais definem a essência dos fatos sociais: a sua capacidade de coerção e sua externalidade em relação ao indivíduo.

Independentemente da nossa vontade, os fatos sociais se impõem sobre nós. São comportamentos e hábitos que parecem emanar da nossa vontade pessoal, mas que na verdade são impostos. Se nós não sentimos essa imposição é porque estamos tão habituados a eles que a força não se faz necessária. Basta transgredir o que está determinado pelo fato social que logo sentimos seu poder de contensão. Muitas vezes, essas formas de agir e pensar estão traduzidas em um conjunto de normais oficiais, como as leis. Nesse caso a coerção se dá de forma clara e ostensiva, através de penalidades. Há, no entanto, outras formas de coerção mais sutis e menos violentas (mas que nem por isso deixam de existir). A moda é um exemplo disso. Você pode, por livre e espontânea vontade, se vestir de uma forma totalmente esdrúxula, enrolado em lençóis, por exemplo. Ninguém irá te prender, mas com certeza você se sentirá constrangido por olhares de repressão e zombaria. Isso é coerção, uma vez que a forma como nos vestimos se constitui como um fato social. Se ainda restam dúvidas sobre a existência dessa coerção, basta olhar para a escola, que é, segundo Durkheim, a responsável por forçar uma série de comportamentos que as crianças nunca teriam espontaneamente. A pressão para que os alunos se comportem de forma disciplinada na escola é a própria pressão exercida pela sociedade, sendo o professor apenas um intermediário.

Além do poder de exercer coerção, a outra característica que define o fato social é que a sua existência independe do indivíduo, é exterior a ele. Os princípios religiosos que seguimos, o papel e as obrigações que cumprimos em nossas famílias, o sistema monetário que utilizamos, a forma como se organizam nossos locais de trabalho, o jeito que estudamos, a maneira como nos sentimos em relação a morte – tudo isso estava definido antes do nosso nascimento. Esses comportamentos – vulgo fatos sociais – não se repetem necessariamente em toda a sociedade, mas podem ser próprios de algumas comunidades específica; países, congregações religiosas ou mesmo grupos de afinidade (musical, por exemplo). Para nós, que vivemos em uma sociedade centrada no individualismo, pode parecer duro reconhecer a existência de algo que impacta nossa autonomia. Queremos acreditar que tudo o que fazemos é por livre escolha, mas basta observar a sociedade com critério e veremos como as formas de pensar, de sentir e de se comportar se repetem. Quando estudamos uma cultura diferente da nossa, os fatos sociais ficam mais nítidos, pois observamos que o que para nós é estranho, para uma outra comunidade está estabelecido culturalmente, como um hábito comum que se reproduz independente da vontade de seus membros.

Bibliografia:
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo_ Martin Claret, 2001.

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