Hegemonia cultural é um conceito chave da teoria marxista. Autores como Lênin, Gramsci e Mannheim refletiram sobre o assunto de formas diferentes. Basicamente a pergunta que estes autores se colocam é: qual passa a ser a relação entre a superestrutura e a estrutura com o advento da industria cultural?
Karl Marx, fundador da teoria marxista, não viveu para assistir o crescimento de uma nova indústria que não mais produzia apenas bens materiais, mas também bens culturais. É nesta esteira que surgiu o cinema, a fotografia e o rádio. A informação e as ideias em geral passaram a ser veiculadas de forma não vista anteriormente e a mídia desempenhava papel fundamental nas relações de poder. É este processo que levou estes autores a se perguntarem sobre o papel da superestrutura nas relações de poder, ou melhor, sobre sua influência nas relações políticas e econômicas.
O intelectual italiano Antônio Gramsci refletiu sobre hegemonia cultural, conferindo-lhe novo status. Gramsci observava a historia italiana e seu desenvolvimento influenciava as relações de classe e os grupos intelectuais na produção da cultura deste país (POZZOLINE, 1968, p. xvii) Devido as suas condições próprias, industrialização tardia, a relação entre a estrutura e a superestrutura foram percebidas de forma distinta do que tinha sido proposto por Marx. Para Gramsci a superestrutura possuía enorme influencia sobre a estrutura; os intelectuais e a ideias que divulgam alteram a maneira como os homens se relacionam com a política e com os meios de produção. E o proletariado, para alcançar a revolução, tinha que conquistar, também, a hegemonia das ideias.
Assim sendo, a ideologia, compreendida na chave marxista como o conjunto de ideias da classe dominante, cumpre um papel fundamental na relação entre as classes. A potencialidade do conceito de Gramsci está em reconhecer que a autoridade e suas diferentes formas de coerção envolvem artifícios muito mais sofisticados que a violência.
A hegemonia cultural é, portanto, um conjunto de ideias dominantes de uma determinada conjuntura social, política, cultural e econômica. Ela não é permanente, mas o Estado, e seus líderes, são o resultado desse somatório de forças em disputa. Neste jogo estão presentes a sociedade civil e a sociedade política. As duas se influenciam mutuamente, e o governo é o resultado das ideias dominantes. Segundo Mochcovitch, o conceito de hegemonia, finalmente, representa talvez a contribuição mais importante de Gramsci à teoria marxista. Hegemonia é o conjunto das funções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período, sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da sociedade. A hegemonia é composta de duas funções: função de domínio e função de direção intelectual e moral, ou função própria de hegemonia (MOCHCOVITCH, 1992, p. 20-21 apud DANTAS, 2015, p. 17).
O conceito de hegemonia cultural, envolve sempre a relação entre o Estado, a sociedade civil, as formas materiais de produção e as estruturas ideológicas e jurídico-políticos. Comumente este conceito envolve uma reflexão sobre o papel dos intelectuais, a cultura de massa e a indústria cultural. A função da escola é muito debatida sob a chave do conceito de hegemonia cultural. O conceito também é utilizado para discutir sobre o papel da mídia nas sociedades contemporâneas, principalmente sobre o poder que exercem em produzir ideias e estilos de vida hegemônicos.
Referências Bibliográficas:
ALVES, A. R. C. O conceito de hegemonia: de Gramsci a Laclau e Mouffe. Lua Nova, São Paulo, 80: 71-96, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ln/n80/04.pdf.
DANTAS,C. Capítulo I. In: Gilberto Freyre e José Lins do Rego: diálogos do senhor da casa-grande com o menino de engenho [online]. Campina Grande: EDUEPB, 2015. Substractum collection, pp. 27-51. Disponível em: http://books.scielo.org/id/y4x7f/pdf/dantas-9788578793296-03.pdf.
PALHA, C. R. L. Na hegemonia cultural de Antonio Gramsci, uma leitura da mídia televisiva, da História e da educação. MÉTIS: história & cultura – v. 1, n. 1, p. 11-23, jan./jun. 2002. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/1036/702.
POZZOLINE, A. Antonio Gramsci: an introduction to his thought. Pluto Press, London, 1968.