Internalização

Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014)
Graduação em Ciências Sociais (UFSC, 2011)

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Internalização, para a sociologia e as ciências humanas em geral, refere-se ao movimento onde o indivíduo toma para si os padrões sociais, ou seja, incorpora as normas de ação, crenças e comportamentos estabelecidos por outros indivíduos em uma dinâmica de socialização. A internalização é simultânea, então, aos processos de socialização, o que coloca já de saída uma separação rígida frequentemente estabelecida entre indivíduo e sociedade como um falso problema: o desenvolvimento da personalidade individual só é possível em uma contexto social, pois é com base nos padrões e critérios que já se encontram disponíveis nos esquemas culturais estabelecidos e dentro das normas sociais de convivência em grupo que podemos desenvolver nossa própria personalidade. Se é verdade que a mente e a individualidade são atributos de cada um de nós, nossa própria existência só faz sentido em uma sociedade onde nos entendemos como iguais perante nossos semelhantes

Entender como nos apropriamos desses conteúdos produzidos em sociedade é, então, entender como se dão os processos de interação entre as pessoas e como se dá a aquisição do conhecimento. Em nossas práticas cotidianas, sempre quando agimos ou falamos com alguém, mobilizamos uma série de normas sociais, padrões culturais e regras de interação pessoal que não são criadas por nossa mera vontade; elas já atuam de forma pressuposta (mesmo que não tenhamos consciência disso), funcionando como uma estoque de normas, saberes e padrões produzidos pela própria sociedade em seu desenvolvimento histórico e que se encontram disponíveis para nós enquanto seres que existem num determinado contexto. É, então, pela própria dinâmica de nossas interações e do resultados e produtos dessas dinâmicas que se estabelecem os padrões que serão tornados individualizados por meio da apropriação e que, ao mesmo tempo, servirão de base para a reprodução dos conteúdos simbólicos da sociedade.

Mas como podemos constatar a eficiência, isto é, o quanto esses processos de internalização funcionam? Para isso, é preciso introduzir uma noção de etapas: se num primeiro momento da vida, o bebê opera uma internalização não-reflexiva, ou seja, de forma não intencional, com o desenvolvimento da personalidade o indivíduo começa a examinar e entender o valor de uma norma. Ao concordar com a vigência desta regra, ele passa a uma internalização plena, ou seja, toma a norma não mais como externa, mas como uma parte de seu próprio ponto de vista. A relação entre o desenvolvimento das estruturas psicológicas individuais e capacidade para a ação moral são amplamente estudadas pela psicologia social e do desenvolvimento sob o ponto de vista empírico. No entanto, o desenvolvimento moral é um tema transversal, que acaba servindo de fundo para toda teoria que procure explicar as condutas, ações e comportamentos dos indivíduos em sociedade.

A internalização que interessa, portanto, é aquela que possibilita ao sujeito um desenvolvimento de suas fases menos reflexivas e conscientes para sua forma madura, mais reflexiva e guiada pelos princípios morais, sociais e culturais adquiridos no processo de socialização. E é o status de maturidade moral e intelectual do sujeito que o fará ser capaz de decidir, agora sim, de forma consciente, quais normas, regras e padrões de conduta que são compatíveis com uma sociedade democrática e inclusiva e com uma individualidade crítica e autônoma.

Fontes:

Vygotsy, Lev. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1991.

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