Islamofobia

Por Camila Betoni

Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014)
Graduação em Ciências Sociais (UFSC, 2011)

Categorias: Sociologia
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A islamofobia é o preconceito direcionado aos muçulmanos ou islâmicos. Os praticantes do Islã seguem uma religião monoteísta que se baseia nos ensinamentos do profeta Maomé e que se encontra sistematizada doutrinariamente no livro sagrado do Alcorão. Essa forma de preconceito está comumente alicerçada em uma confusão entre pertenças étnicas e religiosas.

Assim, a islamofobia pode representar dois tipos de generalizações indevidas, isto é, preconceituosas: destina-se, como dito, contra os crentes do Islã, frequentemente associada aos atos de terrorismo cobertos pela mídia internacional. Mas também diz respeito à generalização que consiste em tomar todo os povos de origem árabe como praticantes do islã, e, portanto, igualando a origem étnica árabe à pertença religiosa islâmica. Embora haja um debate entre os estudiosos quanto ao tipo específico de preconceito que definiria a islamofobia, se seria uma forma de xenofobia (o ódio contra estrangeiros) ou de preconceito religioso, não pairam dúvidas de que ela é um comportamento discriminatório que se baseia em afirmações preconceituosas sobre um povo ou sobre as crenças dos indivíduos.

Protesto contra a islamofobia em Londres (2019). Foto. Andrius Kaziliunas / Shutterstock.com

Ainda que as primeiras referências ao termo remontam aos anos 1920, é notório que o atentado terrorista às torres gêmeas do World Trade Center em 2001 definiu um marco na nova onda de islamofobia nos países ocidentais. Nesse episódio, a ampla cobertura midiática envolta ao clima de consternação com o fato em si apresentou na maior parte das vezes uma caracterização estereotipada da religião islâmica. Seguiu-se a isso a invasão estadunidense do Afeganistão, país que abrigava os terroristas da Al-Qaeda e intitulada pelo governo dos Estados Unidos de “Guerra ao terror”. Atrelando uma doutrina milenar e que ainda hoje conta com bilhões de seguidores aos falsos lugares-comuns do terrorismo e do fundamentalismo, fez crescer na opinião pública uma visão deturpada e limitada da segunda maior religião monoteísta do mundo.

Para além da ligação com o fundamentalismo, as recentes ondas migratórias para a Europa, oriundas em sua maioria dos países do norte da África e da Ásia ocidental, fizeram saltar os casos de perseguição religiosa e racial no velho continente. Ainda que os episódios de terrorismo em solo europeu sejam sempre evocados, a dinâmica migratória tem sido um foco de tensão permanente nas últimas décadas.

Deixando na maioria das vezes países que enfrentam severas privações materiais, que passam por guerras civis ou que violam sistematicamente direitos humanos e vencidas as mortais viagens em barcos clandestinos ou as extensas caminhadas, o imigrante chega em uma Europa que já não garante os direitos básicos de cidadania nem mesmo para os seus cidadãos. Esse tem sido um solo fértil para os movimentos supremacistas europeus, bem como fonte de frustração de migrantes que, em busca de uma vida longe da miséria e da opressão, são tratados com o descaso das autoridades europeias e com o crescente preconceito islamofóbico.

Esse caldo cultural põe às claras as questões, que, paradoxalmente, unificaram a própria Europa no início da Modernidade: as discussões sobre a tolerância religiosa e os fluxos migratórios como uma uma fonte de convivência pacífica e, sobretudo, com o respeito à dignidade da vida humana em suas mais diversas cores, credos e manifestações.

Referência:

Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia. Actividades do Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia. Disponível em: https://fra.europa.eu/sites/default/files/ar07p1_pt.pdf

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