O multiculturalismo é um movimento que visa compreender diferentes identidades e pertencimentos no contexto do capitalismo tardio. O alargamento das fronteiras produzido pela globalização e o intenso contato entre diferentes culturas provocaram um reflexão sobre os limites entre as culturas e a forma como elas se relacionam entre si. Sob essas circunstâncias o debate sobre desagregação de culturas tradicionais, de dominância de uma cultura global, produzida pelo mercado capitalista, como uma “americanização do mundo”, da fixação e movimentação de populações pelo mundo e o constante fluxo de mudanças entrou na pauta do pensamento social.
Além da globalização um outro fator influenciou de forma significativa as questões multiculturais, o pós-colonialismo. Esse outro movimento intelectual também forçou a reflexão sobre o lugar das diferentes culturas e a relação entre elas, buscando um olhar próprio, independente e crítico ao pensamento ocidental dominante.
Um dos principais autores a refletir sobre este assunto foi Stuart Hall. Inicialmente a questão que mobilizou esse campo de estudos foi a questão racial, Hall se dedicou a compreender o que define a identidade negra, concluindo que ela é atravessada por outras identidades, como gênero. Um de seus trabalhos mais conhecidos sobre este tema é o livro “A identidade cultural na pós-modernidade” (HALL, 2011). Neste trabalho o autor discute diferentes concepções de identidade, o sujeito moderno, o impacto da globalização, dentre outros assuntos.
Desta forma, a discussão foi ganhando força justamente pelas experiências práticas que o contato entre diferenças culturais trazia e ainda traz. Como o serviço público dos países deve tratar os imigrantes, ou como se constitui a identidade de um descendente de asiáticos nascido e criado nos Estados Unidos? O problema se torna mais complexo quando se pensa o modelo de democracia ideal para agregar de forma igualitária todas essas identidades.
O multiculturalismo buscava, portanto, responder a questões como: “O que significa para os cidadãos com diferentes identidades culturais, muitas vezes baseadas em etnia, raça, gênero ou religião, reconhecer-nos como iguais na maneira como somos tratados na política? Na maneira como nossos filhos são educados em escolas públicas? No currículo e na política social das faculdades e universidades liberais?” (TAYLOR, et. al. 1994, pg. 3).
A questão do multiculturalismo está diretamente relacionada com a os limites das democracias liberais, visto que elas defendem a igualdade de todos perante a lei, bem como o acesso aos direitos sociais e a defesa dos direitos humanos. Mas como fazer valer tudo isso diante das diferenças? Por outro lado as teorias multiculturalistas se relacionam com as teorias sobre reconhecimento, já que refletem sobre questões identitárias, nacionalidade e cultura.
Por fim, pode-se concluir que o multiculturalismo é muito importante porque obriga a reflexão sobre os estados democráticos, suas instituições, como a escola, as identidades construídas no mundo globalizado e os impactos das novas tecnologias, como a internet. Porém, é preciso ter em mente que apesar dessa flexibilização identitária, das fronteiras, da relação espaço e tempo, reconhecer o outro e seus direitos, continua sendo um problema atual.
Referências Bibliográficas:
TAYLOR, C; APPIAH, K.A.; ROCKFELLER, S.C.; WALZER, M.; WOLF, S. Multiculturalism: examining the politics of recognition.