O sistema indiano de castas possui uma hierarquia bastante complexa e rígida, determinada a partir do nascimento e, tradicionalmente, passada de forma hereditária por pessoas que exerciam o mesmo trabalho que seus antepassados. A origem deste sistema permanece incerta, mas acredita-se que tenha surgido entre os anos 1500 a.C e 600 a.C, época em que foi elaborado uma espécie de código de conduta que designava diversos tipos de punições para um mesmo crime, mas cuja punição dependia da casta de cada um.
“Na Índia, você pode mudar o seu nome, a sua religião, e a sua nacionalidade. Mas não a sua casta. É algo que nasce e morre com você e o segue até sua morte. Não há escapatória” (COSTA, 2012, p.19). Todo mundo tem uma casta, imutável, mantida por meio do casamento de pessoas que compõem a mesma casta, sendo proibido o casamento com pessoas de castas diferentes. (AMBEDKAR, 1917).
No topo do sistema de castas indiano há três castas: os brâmanes (religiosos e mestres), os xátrias (governantes, reis e guerreiros) e por último os vaixás (comerciantes). Em quarto lugar estão as castas mais baixas, chamadas de shudras e que corresponde aos trabalhadores braçais (COSTA, 2012, p.19). Estas quatro castas teriam surgido de várias partes do deus Brahma: da cabeça surgiram os brâmanes, dos braços os xátrias, de suas coxas os vaixás e de seus pés os shudras. Abaixo destes estavam os “intocáveis”, que são chamados dalits, grupo bastante oprimido pelas castas superiores e que ainda sofre diversos tipos de discriminação e perseguição, principalmente na Índia rural.
Tradicionalmente há uma ideia de “pureza” e “poluição” entre as castas, onde as mais altas são as mais “puras” e as demais “poluentes”. Entende-se que, seguindo essa lógica, os brâmanes são os mais puros, mas ainda assim há uma gradação de pureza entre as subcastas e o mesmo se observa nas subcastas “poluentes”. As castas cujos indivíduos desempenhem atividades que tenham contato com substâncias corporais ou com a morte são as mais “impuras”. Neste sistema, observa-se uma disputa entre as várias subcastas, tanto as da base como as do topo da pirâmide, que disputam estas posições de nível de pureza.
A Índia moderna já não consegue mais ser explicada apenas com base nestas quatro castas principais. Os indianos não mais desempenham necessariamente apenas as ocupações designadas pelas castas. Novas profissões surgem e desaparecem com o tempo. Alguns dalits conseguiram ascender economicamente e “são consumidores dentro desse boom da economia indiana. Há alguns anos, os dalits não podiam vestir calças que cobrissem seus tornozelos e eram proibidos de colocar sapatos” (COSTA, 2012, p.25) porque deveriam parecer feios e inferiores. Como uma maneira encontrada de fugir da opressão, muitos dalits se converteram para religiões que não possuem o sistema de castas e há também os que conquistaram poder econômico na sociedade indiana e escondem sua origem de castas baixas para não afetar os negócios.
Ambedkar (1917), um estudioso renomado sobre o sistema de castas indiano argumenta que uma casta é uma classe fechada. Todo indivíduo inserido em uma sociedade é membro de uma classe e a antiga sociedade indiana não tinha como ser uma exceção a esta regra. É preciso, porém, determinar qual foi a classe que primeiro se transformou em casta, uma vez que ele entende classe e casta como conceitos parecidos.
Referências:
ABEMDKAR, B. Castes in India: Their Mechanism, Genesis and Development. Indian Antiquary, Vol. XLI, 1917.
COSTA, F. Os Indianos. Editora Contexto, 2012.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/sistema-indiano-de-castas/