Xenofobia

Por Letícia Rodrigues Ferreira Netto

Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Sociais (Faculdade de Ciências e Letras UNESP, 2015)
Mestrado em Ciências Sociais (Faculdade de Ciências e Letras UNESP, 2017)

Categorias: Sociologia
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Xenofobia é um sentimento de aversão ao estrangeiro que pode vir seguido de situações de violências física ou moral. A ideia de xenofobia vem da contração das palavras genos (povo) e fobia (aversão, medo ou repulsa). Apesar de ser um elemento bastante nocivo atualmente, a xenofobia é um processo relativamente normal na humanidade desde seu início, pois o contato com outros grupos humanos e culturas costumavam ser conflituosos. Atualmente, porém, a xenofobia tem conotações diferentes do que se percebia em outros momentos, pois envolve a aversão ao outro em si e não ao que pode vir do outro no sentido de cultura, recursos e capitais.

A cultura humana é bastante complexa e bastante localizada em cada grupo. Apesar de existirem elementos presentes em todas as culturas, como defendem os estruturalistas como Lévi-Strauss, a forma como os grupos sociais humanos criam estratégias de adaptação a situações e criam a sua própria cultura é muito único. Atualmente, em um mundo globalizado e interconectado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), diferenças culturais que não teriam contato umas com as outras, acabam por se chocar e gerar conflitos. A globalização enquanto sistema pressupõe o contato humano, mas este contato é difícil de ser manejado. Isso leva à afirmação de Bauman, que a Globalização une enquanto separa.

“Graças à globalização, à separação e ao divórcio dela decorrentes entre poder e política, os Estados hoje estão se tornando não muito mais que vizinhanças mais amplas. Eles estão confinados no interior de fronteiras apenas vagamente demarcadas, porosas e fortificadas com ineficácia. As vizinhanças de outrora, uma vez antecipadas para acompanhar os demais pouvoirs intermédiaires em sua jornada rumo à lixeira da história, se empenham para assumir o papel de “pequenos Estados”, exercendo a maior parte do que restou das políticas quase locais e da prerrogativa não compartilhada e monopolista inalienável, antes ciosamente guardada pelo Estado, de estabelecer a separação entre “nós” e “eles” (e vice-versa, claro).” (BAUMAN, 2017, p. 51).

A ideia central de Bauman é que a globalização é um espaço aberto para o trânsito de capitais e de mercadorias, mas que é uma barreira para a parte humana deste mesmo processo. É mais fácil as pessoas aceitarem a enxurrada de produtos chineses que chega a todas as lojas do mundo, do que os próprios turistas ou migrantes chineses em outros países. Assim, a relação entre as pessoas se torna conflituosa.

A xenofobia atualmente é encarada como um problema porque a aversão ao estrangeiro ou ao diferente vem causando situações de violência contra as populações que já vivem nos diferentes países. Os níveis de migração globais são diferentes do que era verificado em outros momentos da história e, devido aos diferentes tipos de conflitos atuais (como conflitos no Oriente Médio e os desastres naturais), os países tem fortalecido suas fronteiras. A ideia de que o estrangeiro é aquele que traz o Mal e que traz os problemas para a nação é muito presente nos discursos que buscam barrar a entrada de pessoas em diferentes países. Essa atitude é considerada uma atitude xenofóbica, pois não condiz com a realidade dos problemas sociais.

“Num território povoado por tribos [E a tribo é utilizada como argumento para se referir a política de quem apoiar e quem matar, não é, aqui, restritivo a populações e sociedades tradicionais], lados conflitantes evitam e desistem evasivamente de persuadir, fazer proselitismo ou converter o outro; a inferioridade do integrante de uma tribo alienígena – qualquer membro – é e tem que ser (e continuar a ser) um ônus predestinado – eterno e incurável -, ou pelo menos deve ser visto e tratado como tal. A inferioridade da outra tribo tem de ser uma condição inapagável e irreparável, e seu estigma indelével deve estar além de qualquer reparação – fadado a resistir a toda e qualquer tentativa de reabilitação. [...] Para deixar as coisas como estão e evitar infortúnios, membros de tribos diferentes se trancam num discurso circular de superioridade/inferioridade não de um para o outro, mas para além do outro.” (BAUMAN, 2017, pp. 52-53).

A ONU afirmou, em 2018, o Pacto Global para a Migração, com a intenção de existir uma cooperação internacional para a garantia dos Direitos Humanos para os imigrantes e para que os países consigam lidar conjuntamente com imigrantes legais e ilegais. O problema da xenofobia envolve tanto a imigração legal quanto a ilegal. Pois as reações de aversão e de que as pessoas deveriam ser separadas em seus países de origem dão base para este sentimento geral. O sentimento xenófobo pode ainda ser direcionado a um povo especifico, como é o caso do antissemitismo europeu ou a aversão de antigas metrópoles com suas antigas colônias.

Assim, a xenofobia é um sentimento de aversão à pessoa do estrangeiro que busca viver em outro lugar. Pode ou não atingir as relações econômicas, mas sempre atinge as relações sociais e humanas. A xenofobia pode se manifestar na fala e sempre tem um caráter de desigualdade e de busca de inferioridade do estrangeiro em relação à população local. Atualmente, ela se torna um problema social que deve ser enfrentado pelos países devido às agressões e violências ocasionadas.

Referências:

BAUMAN, Z. Retrotopia. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2017.

RODRIGUEZ, R. Saiba tudo sobre o Pacto Global para Migração. ONU News. 08 dezembro 2018. Disponível em : https://news.un.org/pt/story/2018/12/1650601

BAUMAN,Z. Mensageiros da globalização. El país. 09 janeiro 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/29/internacional/1446143608_413979.html

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